A pedofilia e a violência sexual infantojuvenil são temas que ainda enfrentam tabus e desinformação na sociedade. A psicóloga e psicanalista Fani Hisgail, autora do livro “Pedofilia, um Estudo Psicanalítico”, explica as complexidades envolvidas nesses crimes, desde a forma como são praticados até os desafios para a identificação e denúncia. De 20 a 22 de março, a profissional estará em Natal para ministrar um curso que abordará também a infância e a sexualidade infantil na vida contemporânea, além de debater questões relacionadas à perversão pedófila e à pornografia infantil eletrônica.
A violência sexual contra crianças e adolescentes frequentemente se mantém oculta por longos períodos. Isso ocorre porque o agressor usa estratégias para conquistar a confiança da vítima e controlar a situação. “O adulto se aproveita da linguagem da criança. Ele vai estabelecendo atos libidinosos com o corpinho da criança, e a criança, de certo modo, começa a achar estranho isso. Até o momento em que passa a ser desconfortável para ela”, relata Fani.
A dificuldade de identificar e denunciar esses casos está ligada a um aspecto recorrente da violência sexual infantil: a repetição ao longo dos anos. “Uma criança que está sofrendo violência, se ela tem cinco anos de idade, vai poder falar algo sobre essa violência quando tem mais ou menos nove, dez anos de idade”, destaca. Segundo Fani, o tempo entre a prática do abuso e a denúncia, além da dificuldade em reconhecer os sinais de sofrimento, torna o enfrentamento desse crime ainda mais desafiador.
O avanço das tecnologias e das redes sociais trouxe novas camadas de preocupação em relação à infância e à exposição dos menores ao risco de abuso, o que desperta uma maior atenção dos pais. Aliado a isso, o ciberespaço se tornou um local propício para a ação de pedófilos. “Os adultos vão criando possibilidades de se aproximar das crianças de várias formas, e os pais precisam ter conhecimento a respeito disso”, alerta Fani Hisgail.
A identificação de um caso de abuso infantil exige um olhar atento por parte de pais, professores e profissionais da saúde. “As crianças muitas vezes se silenciam, ou às vezes ficam muito agressivas, ou se fecham mais no quarto, em ambientes fechados”, explica Fani Hisgail.
O papel da escola nesse processo é fundamental. Segundo a especialista, professores e educadores devem estar capacitados para perceber variações no comportamento dos alunos. “Uma criança que sempre foi extrovertida, brincava, participava dos jogos e, de um momento para outro, se fecha, apresenta um alerta. O educador tem que estar atento para perceber essas mudanças que são muito imediatas”.
A psicanalista conduzirá um curso sobre pedofilia e abuso infantil nos dias 20, 21 e 22 de março, no auditório do Hotel Monza, em Natal. O evento é voltado para profissionais da saúde, educadores e demais interessados em compreender o tema. Mais informações sobre o curso podem ser obtidas por meio do perfil no Instagram @ciepccursos.