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Saiba como é possível prevenir a depressão durante a terceira idade

O processo de envelhecimento traz uma série de desafios que impactam profundamente o dia a dia de uma pessoa. Situações como a perda de entes queridos, o sentimento de improdutividade ou doenças criam um cenário, muitas vezes, difícil de lidar. Não à toa, em 2019, os potiguares com idades entre 60 e 64 anos diagnosticados com depressão representavam a faixa etária proporcionalmente mais afetada por um grau intenso ou muito intenso da doença (22,5%). Em seguida, os mais afetados incluíam a parcela acima dos 75 anos (14,7%), segundo o IBGE.

Mas ações como a prática de atividades físicas e lúdicas, alimentação saudável, vivência da espiritualidade e manutenção da vida social podem ajudar a mudar as estatísticas. Fontes ouvidas pela reportagem reforçam ainda que o acompanhamento de profissionais especializados, bem como a importância de uma rede de apoio sólida, são fundamentais para que os idosos possam encarar os desafios com mais facilidade. A psicóloga Sylvia Sá explica que os cuidados devem envolver corpo, mente e alma. Momentos com a família e a comunidade são um ponto crucial nesse sentido. “Ações como reunir a família aos domingos, passar uma tarde com o idoso ou levá-lo para um restaurante são boas opções a se considerar”, afirma.

A geriatra Ângela Costa ensina que, além de incentivar o convívio com amigos e familiares, a prática de atividades físicas não pode ser deixada de lado. “Exercícios melhoram a disposição e reduzem sintomas depressivos”, explica a médica, que atua no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol), da UFRN, vinculado à Ebserh. Frequentar uma academia, aliás, pode ser uma ótima ocasião para manter contato social, de acordo com a psicóloga Sylvia Sá. “A academia, assim como um curso de línguas ou de pintura, hidroginástica, natação e dança, estimula o idoso, auxilia na socialização e o mantém ativo”, explica.

Ângela Costa acrescenta que a essa rotina de atividades prazerosas, outros cuidados, como a regulação do sono e a realização de check-ups, devem ser adotados. “O check-up envolve o monitoramento da saúde física e o ajuste de tratamentos quando necessário”, aponta. A alimentação é outro aspecto a ser priorizado, segundo a geriatra, por causa dos impactos diretos na saúde do cérebro e no equilíbrio emocional.

“Alguns nutrientes essenciais são o ômega-3 (peixes como salmão e sardinha, linhaça, chia), que auxilia na função cerebral e reduz inflamações; o triptofano (banana, ovos, queijo, castanhas), que ajuda na produção de serotonina, conhecida como o hormônio do bem-estar.

Vitaminas do complexo B (folhas verdes, feijão, carne magra) são importantes para o funcionamento do sistema nervoso, e os antioxidantes (frutas vermelhas, cacau, chá-verde) protegem o cérebro contra o envelhecimento celular”, ensina Ângela Costa.

Evitar o consumo excessivo de açúcares, ultraprocessados e álcool é essencial para manter a saúde mental, de acordo com Ângela. “E é fundamental buscar ajuda profissional, como um geriatra ou um psicólogo, para uma avaliação adequada”, orienta a médica. Sylvia Sá ressalta que a atuação do psicólogo ocorre também junto à família do idoso. “São orientações sobre como estar mais presente, bem como sobre como estimular o idoso a se manter ativo”, destaca.

Desafios
A arquiteta e corretora de seguros Walleria Paiva colocou a mãe, Maria Josélia, no pilates e organiza semanalmente programações que podem ser feitas em família para proporcionar uma rotina de bem-estar para a idosa, de 80 anos. Ela conta que Maria Josélia está sempre disposta a reagir de maneira positiva diante da reclamação de terceiros sobre os problemas do dia a dia. “Apesar dos inúmeros desafios pelos quais passou, ela sempre brinca que não tem problemas”, conta Walleria. Os esforços para manter a saúde mental da mãe se mostram ainda mais desafiadores para a arquiteta diante do quadro do pai, Francisco Maciel, de 81 anos, conforme ela mesma relata.

“Nunca houve um diagnóstico oficial, mas meu pai tinha uma tendência muito grande a ficar deprimido. Tenho um irmão com deficiência e papai nunca lidou bem com essa questão”, conta Walleria. Segundo ela, depois que se aposentou, nos anos 1990, Francisco demonstrou ainda mais dificuldade em lidar com a situação e passou a beber com frequência. “Acredito que ele tinha depressão, porque há muitos casos do tipo na família dele. E, mesmo bebendo muito, meu pai era emotivo, não sendo raros episódios de choro. Acho que a bebida foi uma forma de ele tentar fugir da depressão e da tristeza”, descreve.

Há dois anos, Francisco sofreu traumatismo craniano após uma queda. Em seguida, ainda no hospital, o idoso teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Antes da queda, ele havia bebido”, diz Walleria. Segundo ela, era comum o pai ir várias vezes ao bar em um único dia. “Por causa da queda, hoje ele está acamado, com uma traqueostomia [aparelho utilizado por pessoas com obstrução das vias aéreas]”, conta a arquiteta.

Walleria afirma que Francisco sempre recusou ajuda profissional. “Não sabemos o nível de consciência atual do meu pai. Costumamos perguntar algo, e ele responde apenas com um aceno de cabeça”, revela.

Ela confessa que é difícil também para os filhos lidar com as questões de saúde mental dos pais. Mas se esforça. “Coloquei minha mãe no pilates – as sessões acontecem três vezes por semana – e tento sair com ela. Procuro levá-la à missa e dar suporte na medida do possível, porque tenho minha casa e minha família e ainda ajudo nos cuidados do meu irmão com deficiência. Outro irmão me dá apoio, indo todos os dias pela manhã à casa deles. Eu vou à noite. A verdade é que os pais estão prontos para cuidar dos filhos, mas os filhos não se preparam para cuidar dos pais. A gente cai de paraquedas nessas situações, mas eu garanto que procuro fazer o máximo”, afirma a arquiteta.

Familiares devem observar comportamento

A psicóloga Sylvia Sá e a geriatra Ângela Costa alertam que os familiares precisam prestar atenção ao comportamento dos idosos para identificar prováveis casos de depressão ou outras questões que possam impactar a saúde mental dessa parcela da população. “Se aquela pessoa gostava muito de se arrumar e não está mais querendo, se está perdendo peso rapidamente ou está muito reservada, sem querer conversar, é necessário ficar atento. O comportamento é o único aspecto possível de se observar, porque não dá para perceber sentimentos nem pensamentos”, explica Sylvia Sá.

Dificuldade de concentração e esquecimento também são motivos para ligar o sinal de alerta, de acordo com Ângela Costa. “A família deve estar atenta a mudanças no comportamento do idoso, como a falta de interesse em atividades de que antes gostava, dormir demais ou ter insônia, mudanças no apetite, irritabilidade, apatia ou choro frequente, dificuldade de concentração e esquecimento. Se notar esses sinais, o ideal é conversar com o idoso de forma acolhedora, sem minimizar os sentimentos”, orienta Ângela.

A geriatra cita aspectos que representam risco para a saúde mental dos idosos, como o isolamento social provocado pela perda de amigos e familiares, aposentadoria e dificuldades de locomoção, o surgimento de doenças crônicas (problemas cardiovasculares, diabetes, demências e dor crônica) e o uso de medicamentos.

“Também se destaca a perda de autonomia. A dificuldade em realizar atividades diárias pode gerar sentimentos de frustração e baixa autoestima. E tem ainda o histórico de depressão – pessoas que já tiveram depressão ao longo da vida têm maior risco de apresentar novos episódios na velhice”, esclarece a geriatra.

O tratamento deve incluir psicoterapia, medicação e mudanças no estilo de vida. A psicóloga Sylvia Sá destaca a espiritualidade. “Ter um propósito de vida é imprescindível, então, o tripé espiritualidade, resiliência e fé – independentemente de religião – é indispensável”, pontua.

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