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Cremern realiza vistoria no João Machado e direção descarta bloqueio

O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (CREMERN), por meio do Departamento de Fiscalização (Defis), realizou nesta quarta-feira (20) uma vistoria no Hospital Geral Dr. João Machado, em Natal, após a TRIBUNA DO NORTE divulgar o conteúdo de um relatório interno da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da unidade. O documento havia recomendado o bloqueio técnico de leitos em razão da falta de insumos e medicamentos essenciais. A direção da unidade negou que vá haver bloqueio de leitos.

A inspeção foi conduzida pelo presidente do conselho, Marcos Jácome, e pelo médico fiscal Danilo Machado, que se reuniram com a direção do hospital. Na avaliação do Jácome, a falta de insumos não compromete apenas o atendimento, mas coloca em risco a própria atuação dos profissionais. “A assistência à saúde da população é uma obrigação constitucional. A falta de medicamentos e insumos põe em risco a segurança assistencial e envolve, inevitavelmente, a integridade dos profissionais, que acabam trabalhando em um padrão precário”, disse. “Isso potencializa o agravamento da saúde de quem é atendido e pode levar, infelizmente, ao óbito de pacientes em condições graves”, afirmou.

Durante a fiscalização, o CREMERN constatou que o hospital não possui autonomia financeira, dependendo da Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat) para aquisição de insumos. “Temos conhecimento da grande dificuldade que a atual gestão está tendo em manter todas as suas unidades abastecidas”, declarou Marcos Jácome.

Ela relembra que, como causa, é apontado um déficit financeiro que gera esta situação caótica. “Apesar do esforço da gestão, não tem sido possível reverter o quadro”, pontuou.

Estiveram presentes o diretor técnico, Juan Adrizio Guedes Costa, a diretora de enfermagem Sandy Meirielly, o diretor geral Josadaque Pires e o diretor administrativo e financeiro Denis Daniel da Silva. Segundo a própria direção, o índice de abastecimento gira em torno de 73%, mas há dificuldades pontuais com itens básicos, como luvas de procedimento e capotes.

A gestão explicou que processos de compra estão em andamento e que, dentro de 30 dias, a expectativa é receber novos recursos federais para regularizar os estoques.

O CREMERN conferiu que o João Machado conta com uma UTI de 20 leitos com perfil cardiológico essencial para pacientes críticos. Em situações normais, esses leitos já funcionam com demanda superior à oferta. “Qualquer bloqueio pode potencializar o risco para pacientes que precisam de terapia intensiva. Caso a resposta da gestão não seja tempestiva e eficaz, buscaremos alternativas para garantir a boa assistência à sociedade do RN”, completou.

O CREMERN informou que continuará acompanhando o caso do João Machado e de outros hospitais estaduais, reforçando seu papel de fiscalizar e cobrar soluções da gestão pública para garantir condições mínimas de assistência à população potiguar.

Respostas

Segundo o Conselho Regional de Medicina, apesar da gravidade da situação, os gestores demonstraram surpresa com a informação sobre bloqueio de leitos e negaram que exista risco imediato de interdição.

O relatório da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar – que recomendou a suspensão de leitos sempre que houver falta de insumos básicos – foi enviado para a direção do Hospital João Machado no dia 15 de agosto.

Em ofício, o diretor geral, Josadaque Pires, afirmou que tomou ciência do conteúdo e enviaria “para que sejam implementadas medidas para discussão ampla e treinamento contínuo das equipes com o objetivos de evitar as infecções”.

Já o diretor médico Arnaldo Costa de Medeiros Júnior, também através de ofício, afirmou que “o problema levantado é complexo, não depende exclusivamente em ter o insumo. Reitero que é primordial ter os insumos para as demais medidas, mas saber utiliza-los corretamente, fazendo as boas práticas e evitando os desperdícios teremos melhores indicadores, consequentemente, melhoria na assistência da saúde da população atendida nesse nosocômio”.

Outros hospitais

O relatório do João Machado não é um caso isolado. Como já havia denunciado o Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed), a falta de insumos vem se repetindo em outras unidades da rede estadual. O presidente da entidade, Geraldo Ferreira, também fez um alerta sobre os impactos do desabastecimento de insumos e medicamentos na rede estadual de saúde. Segundo ele, a crise compromete diretamente a qualidade da assistência prestada aos pacientes e expõe profissionais a situações de risco.

“O tratamento do paciente fica totalmente comprometido. Muitas vezes falta um antibiótico, tem que substituir por outro, por outro, e nem sempre o tratamento é o mais eficaz. Outro problema é que aumenta o índice de infecção hospitalar, pelas condições inadequadas, muitas vezes insuficientes para a assistência que você pretende dar. E, obviamente, tem impacto também na morbidade e mortalidade”, disse.
No Hospital Maria Alice Fernandes, em Natal, a Justiça determinou recentemente a reabertura de leitos de UTI que haviam sido desativados por falta de profissionais e materiais. Cinco leitos da UTI neonatal e dois da pediátrica chegaram a ser suspensos, prejudicando o atendimento de crianças em estado crítico.

No Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, a crise também se agravou. Na terça-feira (19), cirurgias ortopédicas foram canceladas pela falta de fios cirúrgicos e equipamentos básicos. Familiares relataram que pacientes estavam internados sem previsão de procedimento, o que, além de atrasar a recuperação, aumenta o risco de complicações.

A rede estadual deve ser alvo de novas fiscalizações. Nesta quinta-feira (21), o CREMERN se une ao Sinmed e ao Ministério Público para vistoriar o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior pronto-socorro do RN. O foco será o centro cirúrgico e o centro de queimados, que enfrenta uma obra parada há mais de um ano e corre o risco de perder recursos federais de cerca de R$ 2 milhões anuais.

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