A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento Mounjaro como tratamento para apneia do sono em adultos com obesidade. A decisão foi assinada na última sexta-feira (17) e publicada ontem (20) no Diário Oficial da União. O Mounjaro é um medicamento injetável, com princípio ativo de tirzepatida, substância já utilizada no tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, para obesidade. Agora, a aprovação amplia o uso para um novo público: pacientes com apneia do sono, condição associada ao excesso de peso e a distúrbios respiratórios durante o sono.

De acordo com o médico José Gurgel, a tirzepatida atua principalmente na redução do apetite e no aumento da saciedade, promovendo perda de peso significativa. “É uma medicação que surgiu e já tem nos Estados Unidos há alguns anos. Aqui no Brasil, o uso foi aprovado há alguns meses, já disponível nas farmácias. Ela age diminuindo o apetite, aumentando a saciedade. Com isso, você perde peso, porque acaba entrando numa dieta de restrição calórica”, explica.

Ele destaca que a perda de peso é um fator decisivo para o controle da apneia do sono, que é um distúrbio caracterizado pela dificuldade de passagem do ar nas vias respiratórias durante o sono. “A apneia do sono é caracteristicamente definida pela presença dessa dificuldade da passagem do ar para os pulmões, e se caracteriza pelo aparecimento do ronco. É um problema muito sério, porque a apneia do sono pode levar a problemas cardíacos”, afirma.

Entre os riscos associados à doença estão o aumento da pressão arterial, o infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral e as alterações metabólicas, como o aumento da resistência à insulina — quadro que antecede o diabetes tipo 2 —, além de ganho de peso corporal, sintomas semelhantes à depressão e dificuldade de concentração.

José Gurgel ressalta que o problema se torna mais frequente com o avanço da idade e o ganho de peso, mas muitas pessoas não buscam diagnóstico. “Muitas pessoas têm e não sabem que têm. As pessoas geralmente falam: ‘minha esposa reclama que eu ronco’, ‘meu marido reclama que eu ronco’, mas essas pessoas não procuram o profissional especializado para poder fazer o tratamento. A redução de peso é importantíssima. Então, aí já está linkada a questão do sobrepeso e da obesidade, que é uma pandemia mundial. Para ter ideia, em torno de 65% dos brasileiros já estão com sobrepeso ou obesos”, observa.

O sobrepeso e a obesidade são as principais causas da apneia do sono, o que torna o Mounjaro um tratamento possível e promissor para pacientes adultos com obesidade que têm a doença. “A grande maioria dos casos incide em pacientes com sobrepeso e obesidade. A pessoa pode ter um defeito anatômico na região, talvez uma gordura localizada na região do pescoço, mas isso é minoria”, afirma.

Além do uso do medicamento, o tratamento mais comum para apneia do sono é a máscara de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), em que o paciente utiliza o aparelho durante o sono para aumentar o fluxo de ar dentro das vias respiratórias. A perda de peso, contudo, continua sendo um dos pilares mais eficazes.

“A perda de peso é considerável. Os estudos mostram que pode chegar a até 20% ou mais do peso corporal a partir de um a dois anos, às vezes até antes. Então, 20% do peso corporal é fantástico, é muito parecido com a cirurgia bariátrica. Por exemplo, você pesa 100 kg, pode perder em média 20 kg num prazo variável de seis a doze meses. É muito importante que o paciente faça uma atividade física de treino resistido, que é a musculação, acompanhada de uma dieta rica em proteína. Uma dieta hipocalórica, com menos caloria, mas hiperproteica”, orienta o médico.

Para prevenir a apneia do sono, o controle do peso corporal é fundamental. “A primeira coisa é você cuidar do seu peso. Você que é jovem, tem 30 anos e não quer ter isso aos 40, aos 50, a primeira coisa que tem que manter é seu corpo dentro do IMC considerado normal, entre 18,5 e 25. Isso obriga a manter uma dieta sempre normocalórica e fazer atividade física. A coisa mais importante é se manter dentro do peso normal. Na hora que você sai do peso normal e ganha sobrepeso, começa a cair no risco de ter problema de ronco e apneia do sono”, reforça Gurgel.

A tirzepatida, princípio ativo presente no Mounjaro, é formada por duas moléculas: o GLP-1 e o GIP. O GLP-1 é produzido no intestino após a alimentação e aumenta a secreção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas responsável por ajustar a glicose, além de reduzir a produção de glucagon, outro hormônio que eleva a glicose no sangue.

“E ele aumenta a secreção de insulina, que é um hormônio produzido no nosso pâncreas que vai ajustar a glicose”, completa José Gurgel.