Com a proposta de revitalizar um bairro que enfrenta o fechamento de lojas e empreendimentos nos últimos anos, as obras na Cidade Alta, em Natal, ainda não foram concluídas e têm gerado reclamações de comerciantes, lojistas e empreendedores locais. Considerado um pontapé inicial para a retomada do bairro, que possui planos de adensamento e programas de habitação a médio e longo prazo, as obras nas avenidas João Pessoa e Coronel Cascudo ainda carecem de ajustes e, em alguns casos, de obras estruturantes.
Segundo o presidente da Associação Viva o Centro (Avicen), Rodrigo Vasconcelos, a paralisação das obras na Cidade Alta gerou frustração nos comerciantes, que criaram boas expectativas com a chegada do projeto. Além da retomada dos trabalhos, ele defende planos de adensamento e programas de moradia como forma de atrair pessoas para o centro da cidade e para a Ribeira.
“Lutamos, pedimos paciência aos empresários, dizendo que tudo seria entregue no tempo certo, e agora ficamos sendo questionados e desprestigiados. Isso atrapalha o comércio. A expectativa que existia ao longo das obras, de investidores abrindo novas lojas, aconteceu, mas agora isso foi estagnado, desaqueceu o comércio”, comenta.
Ele diz que o comércio, no mesmo período, não está como no ano passado, ainda com a rua em obras. “Havia a esperança de que a rua ficasse pronta. As pessoas vinham com o interesse de ver, realmente, o que estava acontecendo. Hoje não existe mais, devido a paralisação das obras, além de outros problemas na Cidade Alta. Mas um dos motivos principais, sim, é essa paralisação, porque a expectativa foi por água abaixo”, explica.
Entre as avenidas Deodoro da Fonseca e Rio Branco, a proposta era fazer um novo calçadão e reduzir o fluxo de veículos, com espaço para um carro por vez, por exemplo. Até a avenida Princesa Isabel, o projeto foi concluído, mas metralhas, lixo e mato alto indicam a falta de conclusão do restante da obra. Entre a João Pessoa e a Rio Branco, a perspectiva é de colocar uma cobertura, com as bases já instaladas há alguns meses, segundo comerciantes.
Já na avenida João Pessoa, após a Rio Branco, no sentido da Praça André de Albuquerque, o cenário ainda é de muitos serviços por fazer, especialmente nas calçadas. Há relatos de poeira e falta de acessibilidade. Comerciantes das redondezas reclamam da falta de conclusão dos serviços. Outro ponto do projeto é o aterramento dos fios dos postes. A dificuldade, no entanto, é que parte desses fios foi furtada nas últimas semanas.
“Muitos clientes meus já caíram e se machucaram aqui na frente, com esses restos de obras. Uma senhora arrebentou a cabeça. A vinda dos clientes diminuiu muito. A sensação que as pessoas têm é de que essa parte está abandonada, sem nada, e que não existe comércio aberto”, cita Ana Paula Gomes, gerente de uma loja de artigos gerais. “A nossa luta é para retomar essas obras o mais rápido possível”, acrescenta.
Os trabalhos na avenida Coronel Cascudo também são alvo de críticas. O projeto, que incluía reforma na calçada, com bancos e espaços de convivência, causou problemas de alagamentos para os lojistas. Em fevereiro deste ano, a água invadiu lojas após as fortes chuvas. “Eu trabalho há 24 anos nessa empresa e nunca alagou. E agora alaga. Essa rua vira uma piscina, literalmente. Não há para onde escoar a água. Colocamos esse batente para ser um paliativo para as chuvas finas”, reclama a gerente de loja, Luciana de Araújo. Ela diz que precisou instalar um batente na entrada do seu estabelecimento como forma de amenizar o avanço das águas das chuvas.
O projeto para revitalizar o Centro de Natal e estimular o comércio local é uma demanda antiga de comerciantes, que se diziam esquecidos pelo Poder Público nas últimas décadas. Nos últimos anos, várias lojas “âncoras” fecharam as portas no bairro, como Americanas, Magazine Luiza e C&A, reduzindo o movimento e provocando um efeito dominó com o fechamento de lojas menores. A maioria estava na Cidade Alta há décadas.
A Secretaria de Mobilidade Urbana (STTU) diz que segue o cronograma de execução dos serviços com a padronização das calçadas, tingimento do concreto e instalação do mobiliário. O trecho entre a Av. Deodoro e a Rua Princesa Isabel já foi entregue. Da Rua Princesa Isabel até a Av. Rio Branco, que terá uma cobertura, foram concluídas as fundações e a implantação das colunas da base. Uma segunda etapa do projeto abrange a região tombada da Cidade Alta, que vai da Av. Rio Branco até a Praça Padre João Maria. “O órgão aguarda a conclusão da remoção do cabeamento aéreo por parte da Semsur, que está reavaliando as próximas etapas do projeto, assim como acontece com o trecho do Centro Histórico”, informou.
A Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur) comunicou que está em tratativas junto à empresa responsável pela obra para retomar os trabalhos o mais breve possível e que a iluminação entre as avenidas Deodoro e a Rio Branco foi reestabelecida.








