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Imagine descobrir um outro planeta antes de descobrir um continente vizinho? Foi exatamente isso que aconteceu com a Antártica. Enquanto Urano foi descoberto em 1781, o continente branco só seria desvendado em 1820. De lá para cá, não deixou de despertar a imaginação de escritores, navegadores e pesquisador. E foi esse fascínio pelo continente, e suas relações extraterrestres, que levaram a glaciologista holandesa Veronica Tollenaar a empreender uma verdadeira saga em busca de rochas espaciais de outros mundos.
Sob a alva cobertura de neve, não há monstros ou criaturas misteriosas, como já se acreditou no passado, mas sim uma quantidade considerável de meteoritos que podem ajudar a recontar a história da nossa galáxia. Embora a concepção da Antártica como potencial sítio arqueológico para itens alienígenas não seja necessariamente nova, o geólogo Japonês Masao Gorai já brincava com a ideia em plena corrida espacial em 1969, Tollenaar é a primeira a tentar desenvolver um método sistemático de buscas.
O primeiro meteorito antártico foi recolhido em 1912, pelo explorador inglês Frank Bickerton. Na expedição de Gorai, foram surpreendentes nove meteoritos em 10 dias.
Até hoje, o continente já nos apresentou com quase 50 mil rochas espaciais, 62% de todas as encontradas na Terra. Tollenaar acredita que algumas centenas delas pousam no gelo externamente, sendo gentilmente cobertas pelo manto branco.
Mas não há motivos para pensar que o solo antártico é especialmente atrativo para essas relíquias. O que temos são reações em cadeia que tornam essas pedras escuras perfeitamente detectáveis. O segredo é relativamente simples: as rochas caem sobre a neve e afundam nas etapas de gelo milenares. Ao longo de dezenas de milhares de anos, essas rochas celestes se movem pelo gelo seguindo o fluxo da geleira e quando encontram um obstáculo, os meteoritos surgem em áreas de gelo azul. Os meteoritos, portanto, se acumulam em áreas específicas, e o contraste os torna facilmente visíveis para quem sabe o que procura. O que a glaciologa fez foi tornar muito mais fácil o trabalho de quem empreende esse tipo de busca.
Através de um sistema computadorizado, Tollenaar consegue estimar, com precisão de 80%, a localização dos meteoritos. O resultado foi um mapa público intitulado: “Onde pegar uma estrela cadente?”. E não vão faltar válvulas. Uma pesquisa publicada pela própria Tollenaar na Science, em 2022, calcula que menos de 13% dos meteoritos da superfície continental foram encontrados. Isso deixa aproximadamente 340.000 rochas disponíveis e mapeadas pela holandesa. Ela mesma espera encontrar algum na expedição de 18 dias que empreende no continente gelado.
O mais interessante de tudo é que as chances de Tollenaar liderar esse tipo de missão poderiam ser tão mínimas quanto encontrar uma rocha alienígena num oceano. A glacióloga se formou por anos à música, se tornando flautista profissional e dominando repertórios que iam do medieval ao contemporâneo. Depois, estudou engenharia civil, onde aprendeu a usar ferramentas de inteligência artificial, conhecimento ainda pouco difundido entre seus colegas glaciólogos. E foi justamente esse repertório intelectual incomum possibilitou a criação do mapa do tesouro de meteoritos antárticos, que fez parte da tese de doutorado que defendi.
O mapa pode ajudar, e muito, as pesquisas futuras. Mas o continente ainda tem suas artimanhas para defender seus pertences. Com temperaturas de até 89 graus negativos e ventos de mais de 300 milhas por hora, ainda serão necessários alguns anos de treinamento, planejamento e logística para os exploradores que se aventuram na missão. Mas, quem sabe, um dos pontinhos pretos já apontados por Tollenaar, pode nos contar, em breve, mais algum grande mistério cósmico.
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G1.globo