[ad_1]
Se você ainda não esbarrou nos comentários a um só tempo engraçados, sérios, enérgicos e afetuosos do professor e pianista Antônio Vaz Lemes nas redes sociais, é porque andou no mundo da lua – ou não tem um smartphone. ó canal PianoQueToca, de Vaz Lemes, é um dos fenômenos mais interessantes das redes sociais hoje em dia, sobretudo no TikTok e no Instagram. Já são mais de 600 000 seguidores e contando. Com inteligência e ouvido, além de humor indiferente, ele extrai de peças populares – um rap, um samba, um funk, até mesmo o som do abrir de portas do metrô – relações com a música clássica. O cenário é o piano de calda de sua casa, em São Paulo. É adesivo e educativo, em fascinante desmontar e montar de peças de um quebra-cabeça infinito.
O PianoQueToca começa agora a romper fronteiras. No próximo domingo, 19 de março, às 14 horas, ele estreará na Rádio Cultura de São Paulo em versão puxada, com uma hora de duração, e uma sacada a ditar o ritmo: a apresentação de pares musicais, sempre um pop e um clássico , toques na íntegra – e mesclados a comentários para lá de interessantes de Vaz Lemes.
Há duplas improváveis – que numa primeira impressão são exóticas mas que, ao apuro do ouvido, em segundos entregam adoráveis surpresas.
Quer saber? Eis alguns pontos do fio da meada que Vaz Lemes vai desafiar:
(1)
O Tema do Castelo do Super Mario Bros., composição de Koji Kondo, dá as mãos para o Trio Fantasma opus 70 para piano, violino e violoncelo de Beethoven.
(2)
Tristeza e pesar, composta por Toshiro Masuda para o desenho Naruto, conversa com o concerto em sol maior, Adagio Assai, de Ravel.
(3)
o tema da forçao épico de John Williams para Guerra das Estrelas tem um jeitinho da Sonata para órgão BWV528 e o Prelúdio e Fuga BWV870 de bach – que aliás foi enviado para o espaço sideral a bordo da Voyager I.
(4)
Ah, eu Hino do Flamengo de Lamartine Babo – com o perdão para tricolores, vascaínos e botafoguenses – bebe de uma fonte magnífica, a Polonaise Heróica opus 53 de Chopin.
Desde sempre, a música popular herdou da clássica as melodias e harmonias de sucesso. Não é uma grande novidade, e aceitou um problema, porque assim caminha a humanidade, de inspiração e inspiração – e que bom, aliás, Tom Jobim ter ouvido muito Ravel e Chopin, além de Villa-Lobos, é claro. Mas o que Vaz Lemes faz é ir muito além dessa constatação – na minúcia, nos detalhes, uma nota aqui, outro acolá, ele faz as trilhas conversarem, de espanto e espanto. Diz ele: “O Tema do Castelo do Mario Bros. é fascinante, apaixonante e bonito – mas o que as pessoas podem descobrir é que há castelos ainda mais espetaculares, como o do Trio Fantasma de Beethoven”.
Há um pequeno risco de PianoQueToca no rádio incomodar os conservadores para quem os grandes compositores jamais deveriam estar no mesmo terreno do pop – e há também uma possibilidade mínima de os geeks acharem tudo meio estranho. Mas há uma certeza: os dois lados sairão felizes. Os amantes do clássico por descobrirem janelas e portas que nunca lhes foram abertas. Os adoradores de animes e batidas eletrônicas, por seu lado, se sentirão representados, levados a um andar da escada onde nunca lhes instalaram – e eles gostam de novidades.
É, como diria o antropofágico Oswald de Andrade, “biscoito fino para a massa”. Não há censura nem regras. As revelações se impõem porque, a rigor, a angústia é o mesmo: as infinitas formações de notas musicais e silêncios. É o avesso do pedantismo, porque tudo é música. Vai do gosto de cada um. Embora o gosto possa e
deva ser burilado. O próprio Vaz Lemes lembra que, ainda menino, ouvia com especial prazer o thrash metal da banda americana Megadeth até ouvir clássicos. O resto é história. A revista inglesa Gramofone chamou Vaz Lemes de “um Pollini latino-americano”, em alusão a um dos maiores pianistas do mundo, o italiano Maurizio Pollini.
Um bom conselho: acompanhe o PianoQueToca nas pílulas vomitadas do Instagram e do TikTok e aos domingos apurar os ouvidos para algo um pouco mais reflexivo – e provavelmente mais interessante. E nada de preconceito com a mistura. Um dos mais impressionantes escritores de nosso tempo, o japonês Haruki Murakami – eterno candidato ao Nobel, e um dia ele vai ganhar – mescla classicismo e modernidade num piscar os olhos, pode pôr na mesma frase Haydin e Beatles. Influenciado pela cultura ocidental, Murakami é apaixonado por música clássica e jazz. Dos 15 aos 30 anos de idade trabalhou em um clube de jazz de Tóquio. Em torno de sua paixão musical ele afirma: “Como disse Duke Ellington, só existem dois tipos de música, a boa e ruim. Deste jeito, jazz e música clássica são quase a mesma coisa. O prazer de ouvir boa música transcende as questões dos gêneros musicais.” Eis a lição de PianoQueToca.
serviço
PianoQueToca: Cultura Geek, Cultura Pop e Música Clássica
Domingo, às 14h00 – Estreia dia 19 de março de 2023
Roteiro e apresentação: Antonio Vaz Lemes
Direção: Inez Medaglia
Rádio Cultura FM de São Paulo (103,3 MHz), site da rádio Cultura (culturafm.com.br) ou aplicativo Cultura Digital.
[ad_2]
G1.globo